Autor de furto cinematográfico com máscara realista era assessor de vereador na Câmara do Rio e foi exonerado após notícias do crime
Com salário de mais de R$ 15 mil, Luis Mauricio Martins Gualda era lotado no gabinete de Rogério Amorim (PL), de onde foi exonerado nesta quarta-feira (14). ...

Com salário de mais de R$ 15 mil, Luis Mauricio Martins Gualda era lotado no gabinete de Rogério Amorim (PL), de onde foi exonerado nesta quarta-feira (14). Mascarado exonerado: autor de furto cinematográfico com disfarce era assessor de vereador na Câmara do Rio Autor de um furto cinematográfico em um apartamento em Niterói, com o uso de uma máscara realista de silicone, o advogado Luis Mauricio Martins Gualda era assessor parlamentar na Câmara de Vereadores do Rio. O criminalista era nomeado no gabinete do vereador Rogério Amorim (PL), de onde foi exonerado nesta quarta-feira (14), após a repercussão do caso na terça-feira (13). Pela função, que ocupava desde janeiro de 2023, Gualda recebia um salário líquido de R$ 15.805. Em depoimento prestado à Polícia Civil no dia 7 de maio, após ser alvo de um mandado de busca e apreensão, o advogado assumiu ser o autor do furto e afirmou ser funcionário de uma empresa com sede em Niterói. No depoimento, ele não mencionou nenhuma atuação no gabinete do vereador. Rogério Amorim disse que o exonerou assim que soube do crime, que o trabalho dele era externo e que não sabia que ele tinha outro emprego (leia a íntegra da nota abaixo). Saída disfarçada do trabalho Às 10h50, advogado chegou para trabalhar com uma blusa verde e calça jeans; às 19h06, saiu com o disfarce com o qual cometeu o crime Reprodução/TV Globo Imagens obtidas pela polícia mostram que, no dia do crime, 7 de fevereiro, uma sexta-feira, Luis Mauricio Martins Gualda chegou para trabalhar no escritório em Niterói às 10h50. Ele usava uma calça jeans e uma camisa verde. Na saída, às 19h, já estava disfarçado para o furto: com a máscara que o deixou careca, terno e gravata. O crime ocorreu pouco depois, às 19h50. Apesar dos dois empregos, ele afirmou no depoimento ter agido motivado por suas dificuldades financeiras, sob influência do amigo Alexandre Ceotto, apontado por ele como autor intelectual da ação. O empresário Alexandre Ceotto André, ex-candidato a vice-prefeito de Niterói e ex-diretor do Instituto Rio Metrópole, segue foragido. Como o g1 mostrou na terça-feira, Ceotto também tem relações políticas. Ele já ocupou cargos no Governo do Estado do Rio, e foi assessor do deputado estadual Rodrigo Amorim (União), irmão do vereador Rogério Amorim, entre setembro de 2021 e janeiro de 2022. Rodrigo Amorim informou que Alexandre Ceotto foi exonerado por determinação dele em 2022. "Desde então não tenho mais nenhum contato com este indivíduo", afirmou. Bandido que usou máscara realista para invadir condomínio de luxo em Niterói procurava US$ 1 milhão em apartamento, diz polícia Leia a íntegra da nota de Rogério Amorim: "O advogado Maurício Gualda foi exonerado do gabinete do vereador Rogério Amorim assim que se tomou conhecimento dos fatos execráveis nos quais esteve envolvido. A conduta criminosa dele é inadmissível e não pode ser tolerada em hipótese alguma. O trabalho dele era externo e entre suas funções, elaborava pareceres para projetos de lei e também representações feitas a órgãos públicos.O gabinete não tinha conhecimento de outro local de trabalho do ex-advogado. Pelo Estatuto da OAB o advogado é um profissional liberal que só não pode atuar contra a Fazenda que o remunera." O crime Máscara usada no crime foi comprada pela internet, segundo depoimento do autor; imagem consta no inquérito Reprodução As imagens de câmeras de segurança de um apart-hotel no bairro Gragoatá mostram um homem careca, de terno, luvas e óculos escuros entrando no prédio. Era, na verdade, Gualda usando uma máscara realista – que cobria toda a cabeça e escondia o cabelo. Em seu depoimento, Gualda afirmou que pagou cerca de R$ 1,8 mil para comprar a máscara, em uma plataforma internacional de compras virtuais. Disse ainda que, após o crime, picotou o objeto em vários pedaços e jogou no lixo orgânico da lixeira do prédio. Não há legislação no Brasil que restrinja a venda de máscaras realistas, mas o seu uso pode ser considerado ilegal quando associado a atividades criminosas (leia mais no fim da reportagem). As câmeras de segurança do apart-hotel mostram o homem entrando no prédio de luxo. Durante quase todo o tempo, ele permaneceu com um celular no ouvido, indicando que falava com alguém. Ele circulou em áreas de acesso exclusivo dos funcionários, seguiu até o apartamento, arrombou a porta e furtou 8 relógios, avaliados em R$ 80 mil. Toda a ação durou cerca de 18 minutos. Compra pela internet Galda afirmou que, depois da ação, "passou a se desfazer de todos os vestígios digitais do cometimento do crime": apagou sua conta no Ebay e todos os e-mails relacionados à compra da máscara. Na semana passada, a polícia cumpriu um mandado na casa do advogado, e ele apontou Alexandre Ceotto André como autor intelectual da ação. Alexandre foi candidato a vice-prefeito de Niterói na chapa de Deuler da Rocha (PSL), em 2020. Também atuou no governo do estado por duas vezes: como subsecretário de Relacionamento Institucional do governo Wilson Witzel, entre janeiro de 2019 a julho de 2019, e como diretor de Desenvolvimento Metropolitano Integrado do Instituto Rio Metrópole (IRM), de junho de 2022 até novembro de 2023. Nas primeiras horas desta terça-feira (13), Ceotto também foi alvo de buscas. No fim da manhã, a polícia pediu, e a Justiça expediu um mandado de prisão. Até as 16h30, ele não havia sido encontrado. As investigações mostraram que a planta do imóvel e a rotina do morador foram indicadas por Alexandre. A venda de máscaras realistas é legal? Segundo fontes da polícia ouvidas pelo g1, não há uma legislação federal específica no Brasil que proíba ou restrinja diretamente a compra e venda de máscaras realistas. O uso das máscaras, no entanto, pode ser considerado ilegal se estiver associado a atividades criminosas, como fraudes, furtos ou invasões de privacidade. Nesses casos, as autoridades podem enquadrar o uso indevido e tipificar crimes como roubo qualificado, falsidade ideológica e estelionato. A importação de máscaras realistas também pode estar sujeita à fiscalização da Receita Federal e da Polícia Federal, especialmente se houver indícios de que o produto será utilizado para fins ilícitos. Procurada, a defesa de Luís Maurício diz que ele já colaborou e vai continuar colaborando e que vai buscar o acesso pleno aos autos para prestar maiores esclarecimentos. Em nota, a Corregedoria da OAB-RJ informou que abriu um processo disciplinar para apurar a conduta do advogado e enviará um ofício à Polícia Civil, solicitando cópia do inquérito que trata do caso. O g1 tenta contato com a defesa de Ceotto. Imagens mostram o advogado com e sem o disfarce Reprodução/TV Globo